Uma frequentadora
assídua do bar favorito na Rua Angústia deste escriba (também frequentador
assíduo) estava particularmente perturbada e perturbadora naquela noite de
sábado; cada vez mais dada ao álcool nos
últimos tempos (consta que tem baixado no ilustre estabelecimento quase toda
noite, se embriagando com frequência exagerada) e cada vez menos controlada, estava, como se diz em bom português ‘tomada
pela pomba gira’, o que preocupou e
demandou atenção e cuidados de todos nossa turma, a dita elite do bar, que
estava acomodada em uma mesa nos fundos mais escuros, como convém à turma mais
sábia e respeitada de qualquer bar.
Mal adentrei o
bar e sentei na referida mesa, percebi o estado preocupante da dama e a
preocupação dos demais membros da mesa. E dado que todos nós somos seguidores fieis
e inflexíveis da máxima “podemos ficar putos da vida com a pessoa, secretamente
pensar: ‘morre, porra!’. Mas nunca abandonamos um amigo que está mal ou chapado,
na noitada”, ficamos de olho na moça, tentamos acalmá-la, controlar seu consumo
de beberagens(inútil esta ação, claro), seguimos como podemos seus passos – em dado
momento, ela disparou rua acima, trêmula e lá fomos, eu e uma garota de nossa
turma, persegui-la, apanhá-la, acalmar a moçoila (missão impossível) e trazê-la
de volta ao bar e a nossa vigilância! Em meio a essas filigranas irritantes, por
fim conseguimos arrancar a razão de tanto desatino: um sujeito mal ajambrado, sempre
mal vestido (e aparentemente sempre as mesmas roupas), sempre com o mesmo papo
em um português trôpego, em suma, um verdadeiro ‘zé ruela’, eis a causa de
tanto desvario da moça, que o criticava e xingava com gosto, entre nós, que
formamos uma roda ao seu redor, enquanto não tirava os olhos do moçoilo, que
estava com um amigo tão desprezível quanto ele a meras duas mesas de distância,
disparando olhares e sorrisinhos debochados para nossa amiga, claro...
A noite seguiu,
cada um de nós ia à porta fumar um cigarro, pegar bebida, esticar as pernas,
admirar a fauna noturna, sempre nos revezando, para não deixar a doida sozinha,
pois a qualquer momento ela poderia perder de vez as poucas estribeiras e
protagonizar uma parte dois dos eventos da semana anterior, no mesmo bar,
quando tentou espancar algumas garotas que estavam apenas conversando com o
dito cujo...(soube dessa patuscada enquanto dividia um cigarro com uma das
garotas, na calçada).
Por fim, uma
das duas garotas presentes na roda, mais velha e experiente, conseguiu acalmar
de fato a moça e arrancou dela o motivo de tanta óbvia raiva e inexplicável
fascínio pelo sujeitinho, confissão que não foi nada difícil para ela extrair,
diga-se, pois eu estava ao lado e ouvi tudo:
Acontece(u),
caros leitores, que o tipinho, por mais tosco que seja, mandou bem em um
encontro sexual entre ele e a moça descontrolada: nas palavras dela, não
conseguia tirá-lo da cabeça e ficava doida de ciúme ao vê-lo apenas olhando
para outra mulher porque ele foi, apenas, um dos únicos homens que a fez gozar
(o último a conseguir a proeza, para ser exato) e ela, mesmo sabendo ser ele um
idiota vulgar que não vale nenhuma preocupação ou crise de dor de cotovelo, com
o qual é impossível ter um relacionamento de fato, simplesmente não conseguia
evitar de ser tomada pelas baixarias.
Bem, caros
leitores, esse relato pode, e espero, gerará outras postagens para esta
tranqueira, há vários temas encalacrados nele que merecem ser desenvolvidos em
textos exclusivos, mas por hora, encerro com uma reflexão, baixa, barata, mas
sincera, como todas as postagens neste blog.
Desde a adolescência,
sempre neguei, desprezei e combati os chamados ditos e máximas populares, para
mim, eles não são porções concentradas da sabedoria humana e da experiência de
vida vivida, mas acima disso, puras e simples formas das pessoas burras e com
preguiça de pensar(a esmagadora maioria da patética espécie humana, cumpre sempre
registrar) continuarem burras e manter seus danificados cérebros parados e
enferrujando, nada além de um recurso para evitarem sair da mesmice e de ver o
mundo com olhos realmente abertos. Continuo a acreditar nisso, mas não sou
dogmático, a vida e o que fazemos com o que ela nos trazem situações e eventos
que nos levam, se não somos burros e preguiçosos de pensar, a rever, mesmo que
parcialmente, nossas convicções e conceitos, assim, me peguei, ao final dessa
noite mezzo patética, mezzo irritante, a concluir que uma certa máxima que ouvi
demais, na adolescência e começo da primeira juventude, tem sim uma porção de
verdade e não é de todo lenda nem tão somente expressão do velho chauvinismo
masculino. Os leitores por acaso conhecem a expressão ‘amor de pica, fica.’?
Então...
Saudações canalhas e cafajestes