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terça-feira, 28 de maio de 2019

Experiência Noturna Ou: nenhuma experiência é páreo para a malícia da mulher


O rock ´n´roll rolava (aliteração primária, admito) a toda no último grande reduto da boa música na Rua Angústia;  rock acústico mas tocado com técnica, entrega e alto volume por um dos melhores músicos que se apresentam naquele bar. Este escriba acompanhava atento, sentado em uma mesa bem próxima, junto com outros dois membros da elite do microcosmo social do boteco em questão. A noite avançava, a música mais e mais poderosa, a bebida sendo consumida.
Eis que, ao final da primeira parte do show( show mesmo, sem imprecisão ou exagero: o cara estava detonando), surgem duas moças, saltitantes e sorridentes, já conhecidas de muitos ali. Uma delas, acompanhante, ficante, ou seja lá o que for do músico... e um flerte já um tanto antigo deste canalha que vos escreve, a qual já protagonizou postagem nesta tranqueira.   
Conversa vai e vem, os casais se juntam, mais bebida, o ritmo da noite.  O músico faz sua primeira pausa. A madrugada já ia um tanto alta quando o escriba se encosta no balcão para se abastecer de mais cerveja. Quem surge a seu lado, sorrindo, cintilante, linda?  Ela mesma, ficante ou sei lá o que do astro. Cumprimenta-me pelo nome e puxa uma conversa que já sinalizava coisas, toda entusiasmada, me tratando com uma intimidade até então rara...Mas não demorou a ela partir para os braços de seu verdadeiro interesse.
A noite ia para seus estertores, o bar se esvaziava, a apresentação se tornou um karaokê alcoolizado entre amigos e casais.  A moça sai das mãos habilidosas do músico, senta-se a meu lado e – já visível e por completo alcoolizada  - retoma a conversa, exaltando o cara, dizendo como ele é demais e se perguntando porque não assume de vez esse relacionamento, perguntando  a mim o que acho. Eu, tonto com tanta beleza, charme e perfídia, decido entrar no jogo e disparo:
– Acho que se eu fosse homem de verdade tomaria você dele!
Ela sorri, entre lisonjeada e encabulada, e responde que não pertence a homem nenhum, para ser de um e ‘tomada’ por outro.  Sem se abalar, respondo que foi apenas um modo de dizer, um galanteio mais ousado. E se manda para os braços do astro da noite mais uma vez...
Avancemos a narrativa até o que realmente importa, pulemos um período em que nada digno de registro e alcancemos o clímax : o finalmente fim da noite, todos nós já meio acabados, bêbados, claro. O músico, ainda animado, atendia aos pedidos dos amigos, tocando com quase a mesma gana do começo da noite. Eis que a linda moça, que ainda tinha ânimo para dançar, me puxa para perto e me põe para dançar ao som tocado e cantando por seu caso, que estava bem a nossa frente, e sem mostrar a mínima perturbação. Após alguns rodopios, ela se liberta, sorri um sorriso de despedida e se atraca mais uma vez com o cara. Mal tenho tempo de ponderar sobre, do alto de mais de 45 anos, ainda me envolver em intriguinhas e joguinhos dignos de adolescentes desajeitados com hormônios em fúria: um conhecido, também frequentador do bar, e que estava um pouco acompanhando a apresentação, um tanto mais circulando, fumando, etc, surge, percebe minha expressão facial e pergunta se estou bem. Digo que estou muito bem, chego mais perto e falo:    
– Estou bem, mas cara, tenho de dizer algo:  junte um ser demoníaco, manipulador, tinhoso (a mulher) e um ser que é idiota por natureza ( o homem) e você terá no mínimo cenas cômicas ou encrenca na certa, o que é mais provável.
A namorada dele, que tinha se juntado a nós um átimo antes de eu responder, riu e disse:
– É, eu vi as coisas demoníacas que tavam rolando com você. Toma cuidado! Ha ha ha.
Nos despedimos e cada um rumou para seu refúgio. 

Saudações canalhas e cafajestes

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Mais porções de sabedoria




Como este escriba está passando por uma espécie de bloqueio criativo - e também por uma fase de marasmo existencial, que na verdade é causa do dito bloqueio - segue, para esta tranqueira ao menos aparentar atividade, dois trechos lapidares da introdução do mestre e imortal João Antônio para seu não menos magistral e imortal livro Malagueta, Perus e Bacanaço, um dos mais perfeitos e inebriantes retratos de um Centro de São Paulo que não mais existe, mas que quixotes patéticos como eu continuam a buscar, em suas andanças noturnas por esse Centro.
Dois trechos que sintetizam perfeitamente o que é ser boêmio e deliberadamente fora da normalidade medíocre, ser o que os mortos-vivos que rastejam pela cidade chamam de 'derrotados, 'perdedores' (Nos orgulhamos de sermos assim considerados por vocês, gente que 'venceu na vida'!)
Os trechos:

"Parece-me que tenho um das mais puras bossas para a malandragem, entre as muitas que vi. Mas nunca vi ninguém com tanta vocação de otário."
"(...) Os porres resolvem o problema do dono do bar. E certos vícios, com autenticidade, são até virtude."

Saudações canalhas e cafajestes  

terça-feira, 14 de maio de 2019

Descobertas feitas em mesas de bar e registradas em guardanapos - XCIII

Estava este escriba no seu porão favorito, junto de seus velhos amigos e dois colaboradores mor desta tranqueira. Eis que uma musicista bem reputada em certa cena roqueira 'underground' da cidade, nossa conhecida, passa, nos cumprimenta e segue adiante. Teço comentários mais que elogiosos a ela, digo que se ela desse 'trela', se facilitasse, corresponderia com alegria e entusiasmo. Pois um dos dois, aquele que me conhece há mais tempo(são quase trinta anos de amizade e noitadas e beberagens juntos) me interrompe e pergunta:
- Vem cá, essa mina já não tem mais de 40 anos?
- 42 para ser exato, por quê?
E ele dispara a observação certeira, fatal, a frase a ser registrada, o centro dessa postagem:
- Ela não é muito velha para seus padrões?
Meu outro amigo desata a rir, nós dois o acompanhamos e por um momento, caros leitores, me senti o canalha dos canalhas.  E um acontecimento posterior, no mesmo local, na mesma noite, a ser relatado por aqui em breve, confirmaria a imagem que meu amigo pintou deste sujeitinho.

Saudações

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Inspiração Ou: sempre afiado, graças à beleza e à graça femininas

Este canalha estava em um de seus bares favoritos, o já várias vezes citados um dos últimos refúgios do rock no Centro de São Paulo e na Rua Angústia restantes, junto a ele um de seus companheiros perenes de noitadas e colaborador assíduo desta tranqueira. Era começo de noite, não haveria música ao vivo naquela exata noite e o lugar ainda estava vazio, assim o dono nos franqueou o acesso a seu computador laptop, devidamente ligado ao sistema de som, para bancarmos os djs e botarmos o melhor do rock para animar o ambiente, talvez atrair os transeuntes a entrar, beber e ouvir a boa música. Recebemos a missão sem pestanejar e executamos com louvor. Eis que as pessoas entravam, paravam para prestar atenção no que partia dos alto-falantes, pediam cerveja, até que um grupo formado por um casal e duas garotas orientais, uma delas na flor da idade, entrou, sentou-se próximo a nós, passou a ouvir atentamente a música que escolhíamos; não demorou a entabularem conversa e pedirem sugestões de casas noturnas com rock tocado por músicos, ao vivo; demos sugestões e enfatizamos que o próprio bar em que estávamos, na maioria dos fins de semana, abriga ótimos shows. Bastou isso para uma das duas orientais, a mais jovem delas, uma linda mocinha puros frescor e juventude mal entrada nos 19 anos, se tanto, se animar e pedir para colocarmos no som 'rock dos bons', pois disse conhecer quase nada do gênero. Como não reagir com entusiasmo a um pedido tão sincero feito por uma linda mocinha que exala inocência e desejo de descobrir  as delícias da vida?
Corri ao aparelho e tasquei um clássico dos The Doors, que a linda menina de olhos puxados reconheceu. Animada, se pôs a requebrar timidamente, enquanto trocava algumas palavras amáveis com este escriba, que respondia com educação e galhardia, cortejando-a de modo leve. Nisso, reparei que meu amigo nos olhava com um sorriso zombeteiro, que me intrigou.
Tenho de ser fiel aos fatos e registrar que esse papo não gerou nada mais substancioso, agradável ou memorável: o grupo decidiu ou tinha de seguir noite afora; agradeceram as sugestões, nos cumprimentaram. A mocinha se despediu com calma e naturalidade e eu, sem exageros na voz e gestos beijei-lhe sua mão e recomendei que voltasse outra noite ao bar.
Assim que o grupo ganhou a rua, meu companheiro de canalhices caiu na risada e após se refazer disse:
"Impressionante como sua verve de conversinha de canalha, quando parece enferrujada e esquecida ressurge tão afiada como sempre. Você reparou como galanteou a menina com uma leveza e tato que só canalhas de verdade conseguem ? Fez graça sem assediar ou xavecar de fato, tentando animá-la a ficar? Você é o canalha dos canalhas!"
Caí em mim, caí nas risadas também, ao tomar consciência do que ele disse, de como esse já velhusco cafajeste lançou mão de suas habilidades sem dificuldade e comentei:
"Também, com uma gracinha como essa a sua frente, querendo ser iniciada no rock, que cafajeste não afia ao máximo sua verve?"

Saudações canalhas e cafajestes