O rock ´n´roll rolava (aliteração primária, admito) a toda
no último grande reduto da boa música na Rua Angústia; rock acústico mas tocado com técnica, entrega
e alto volume por um dos melhores músicos que se apresentam naquele bar. Este
escriba acompanhava atento, sentado em uma mesa bem próxima, junto com outros
dois membros da elite do microcosmo social do boteco em questão. A noite
avançava, a música mais e mais poderosa, a bebida sendo consumida.
Eis que, ao final da primeira parte do show( show mesmo, sem
imprecisão ou exagero: o cara estava detonando), surgem duas moças, saltitantes
e sorridentes, já conhecidas de muitos ali. Uma delas, acompanhante, ficante,
ou seja lá o que for do músico... e um flerte já um tanto antigo deste canalha
que vos escreve, a qual já protagonizou postagem nesta tranqueira.
Conversa vai e vem, os casais se juntam, mais bebida, o
ritmo da noite. O músico faz sua
primeira pausa. A madrugada já ia um tanto alta quando o escriba se encosta no
balcão para se abastecer de mais cerveja. Quem surge a seu lado, sorrindo,
cintilante, linda? Ela mesma, ficante ou
sei lá o que do astro. Cumprimenta-me pelo nome e puxa uma conversa que já
sinalizava coisas, toda entusiasmada, me tratando com uma intimidade até então rara...Mas
não demorou a ela partir para os braços de seu verdadeiro interesse.
A noite ia para seus estertores, o bar se esvaziava, a
apresentação se tornou um karaokê alcoolizado entre amigos e casais. A moça sai das mãos habilidosas do músico,
senta-se a meu lado e – já visível e por completo alcoolizada - retoma a conversa, exaltando o cara,
dizendo como ele é demais e se perguntando porque não assume de vez esse
relacionamento, perguntando a mim o que
acho. Eu, tonto com tanta beleza, charme e perfídia, decido entrar no jogo e
disparo:
– Acho que se eu fosse homem de verdade tomaria você dele!
Ela sorri, entre lisonjeada e encabulada, e responde que não
pertence a homem nenhum, para ser de um e ‘tomada’ por outro. Sem se abalar, respondo que foi apenas um
modo de dizer, um galanteio mais ousado. E se manda para os braços do astro da
noite mais uma vez...
Avancemos a narrativa até o que realmente importa, pulemos
um período em que nada digno de registro e alcancemos o clímax : o finalmente
fim da noite, todos nós já meio acabados, bêbados, claro. O músico, ainda
animado, atendia aos pedidos dos amigos, tocando com quase a mesma gana do
começo da noite. Eis que a linda moça, que ainda tinha ânimo para dançar, me
puxa para perto e me põe para dançar ao som tocado e cantando por seu caso, que
estava bem a nossa frente, e sem mostrar a mínima perturbação. Após alguns rodopios,
ela se liberta, sorri um sorriso de despedida e se atraca mais uma vez com o
cara. Mal tenho tempo de ponderar sobre, do alto de mais de 45 anos, ainda me
envolver em intriguinhas e joguinhos dignos de adolescentes desajeitados com hormônios
em fúria: um conhecido, também frequentador do bar, e que estava um pouco
acompanhando a apresentação, um tanto mais circulando, fumando, etc, surge, percebe
minha expressão facial e pergunta se estou bem. Digo que estou muito bem, chego
mais perto e falo:
– Estou bem, mas cara, tenho de dizer algo: junte um ser demoníaco, manipulador, tinhoso
(a mulher) e um ser que é idiota por natureza ( o homem) e você terá no mínimo
cenas cômicas ou encrenca na certa, o que é mais provável.
A namorada dele, que tinha se juntado a nós um átimo antes
de eu responder, riu e disse:
– É, eu vi as coisas demoníacas que tavam rolando com você. Toma
cuidado! Ha ha ha.
Nos despedimos e cada um rumou para seu refúgio.
Saudações canalhas e cafajestes