Ontem e hoje à noite eu atravessava a principal avenida da cidade, nessa noite de julho em outubro, e enquanto os edíficios, regulares e impassíveis, sólidos e perfeitos passavam por mim, ou eu passava por eles, sua imensidão e regularidade, suas formas geométricas pareciam se fundir com o ar gelado, como se um fosse exalação do outro, como se o ódio que eu sentia e a fria desumanidade que se apossara de mim, um desejo mecânico e desapaixonado de impingir dor, sofrimento e vingança fossem provocados por eles, ou se todos - frio da noite, edifícios de ar inumano, ódio - se fundissem numa só coisa, como se a frieza se tornasse tudo que existe.
E assim aprendi que a chamada desumanidade, a frieza, ou o "mal" (outra palavra pueril e idiota que abomino por ser tão rasteira, limitada e limitadora) não são a negação do humano, a derrota dos bons sentimentos para o que é mal e oposto à doce e tola teoria do bom e velho Rousseau. Não, este filósofo barato da noite nega tudo isso e afirma: tornar-se um monstro desumano é a última ação desesperada de resistência que é possível para aqueles que não tem outra escolha, que têm diante de si serem destruídos ou destruírem, é um grito desesperado de uma humanidade esmagada. E todos temos de fazer escolhas.
Assim, não sejamos obtusos ou moralistas diante dos frios e insensíveis, pois eles são uma forma extremada e incompreensível de humanidade.
Post Scriptum: esse textinho acima, à primeira leitura parece fugir do tema maior e praticamente único deste blog, a saber, refletir sobre as relações homem versus mulher contemporâneas e detoná-las (as mulheres e as relações), mas adivinhem qual o sexo da criatura que inspirou essa pérola de mediocridade linguística e literária?
Adorei!! Vou refletir a respeito e comento depois...
ResponderExcluirbjs!!