"Pobres raparigas da minha idade!(...)Através de suas palavras, nitidamente surge a cada passo a miséria desoladora duma educação toda errada, contrária à vida, contrária à natureza. E são risos abafados, são súbitos silêncios, rubores súbitos. Elas sabem muito bem quando se devem calar, sabem o que lhes é proibido e têm um cuidado extremo em não infringir essas proibições - justamente porque conhecem de sobejo aquilo que o convencionalismo lhes manda ignorar. Diante das mães e das tias, é claro, ou da gente de cerimônia. A sós com as companheiras, muda a conversa de rumo e só do proibido se fala. Atascam-se então no lodo que lhes é vedado palmilhar descalças, e as tristes não veem que esse lodo foi o que uma sociedade torpe fez da água límpida, da água cristalina e puríssima onde, sem crime, podiam mergulhar todas nuas.
Cegas elas próprias, educarão mais tarde identicamente as filhas. E os homens clamam no seu orgulho revoltante de machos:
- A mulher é um ser inferior...em geral de pouca inteligência; fútil, má e falsa.
Mas decerto. É isso. É isso porque a fizeram assim. Fizeram-na assim os homens, e ela mesma colaborou na sua destruição. As mães são as piores inimigas do seu sexo.
(Mário de Sá-Carneiro, O Incesto)
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