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sexta-feira, 23 de junho de 2023

Quarteto eclético...

 Mal entrei no meu bar favorito e usual e após pegar a primeira ipa da noite, cumprimentar os notívagos que sempre estão por lá nas noites de sábado e me juntar a eles em nossa mesa habitual, reparei nos dois aparentes casais nos fundos, que dominavam a jukebox e pulavam ao som da música que emanava do aparelho (para ser exato, reparei nas duas mulheres, é claro! A morena é, digamos, uma 'velha conhecida' minha e dos leitores também: protagonizou postagens recentes - é aquela sujeita metida a sedutora irresistível que numa ocasião se insinuou para mim e um tempo depois posou de mulher decente que só pode 'pegar outras mulheres'...) A outra, que eu não vira antes, era uma monumental ruiva, alta, cabelo cacheado e cheio, metida em roupas de lycra pretas e bem justas, um delicioso protótipo de roqueira/metaleira, um tipo de mulher que já foi abundante nas noites do Centro de São Paulo. Havia dois caras com elas. O acompanhante da morena era o tipinho que o dono do bar disse, com conhecimento de causa,  não ser mais que 'o corno oficial da vez dela', vulgo maridão. Já o outro cara, aparentemente, estava apenas cercando a ruiva e nada tinha se consumado ainda, ou assim parecia. 

Quando adentrei o local, saía da máquina de música uma seleção de new metal, esse heavy metal moderninho; audível, sem incomodar. Daí veio uma sessão de quatro ou cinco barbáries sonoras do grupelho que atende pelo nome de legião urbana emparelhadas, o que fez meus sentidos e intuição ficarem em alerta (sim, eles dominaram a jukebox, enfiaram algumas cédulas no aparelho e programaram umas quinze músicas, pelo menos).                                                                                       

Interessante que todas as músicas eram cantadas (melhor seria dizer 'gritadas', 'guinchadas'), palavra a palavra, pelos quatro. Pois encerrada a ladainha sonorífera de renato russo, o mais medíocre poeta do óbvio da música brasileira, eis que a máquina inunda o bar com um...pagode de sofrência, de dor de corno!! E a cena inominável: os quatro cantando a maldita e miserável letra a plenos pulmões (as duas moças à frente, comandando a cantoria). A turma da minha mesa nos encaramos perplexos, incrédulos, petrificados. Alguns cogitaram ir até o quarteto animado e dar um esculacho, mas claro que a ideia foi abandonada de imediato. Algumas tranqueiras depois, todas cantadas direitinho pelo quarteto nada fantástico, eis que o fundo do poço musical se escancara e uma coisa horrenda, macabra, um pop eletrônico cantado (?) por duas vozes femininas púberes e desafinadíssimas toma o bar. Não me contenho, avanço até a jukebox, ignorando se o quarteto está me olhando ou não e leio o nome da obra das trevas: não satisfeitos em pôr para tocar pagode de corno em um dos dos últimos bares de rock da rua Augusta, elas (pois só pode ter sido escolha das moçoilas)  escolheram uma das armações mais ridículas da indústria pop da história, aquela ridícula e execrável duplinha russa que infernizou os anos 90 (não por acaso, os anos mais ridículos da história da música pop), as duas garotinhas que posavam de casal de lésbicas - armação, teatro, óbvio! - e se intitulavam tatu!

Sim, caros leitores, sábado à noite em um bar de rock no Centro de São Paulo e quatro idiotas infectam o ambiente com pagodinho e tatu!!!

Me contendo para não ser grosseiro ou encrenqueiro, olho mais uma vez para a telinha da máquina  e vejo que a tortura programada está terminando. Saco uma nota de cinco reais e uma de dois da carteira e seleciono, sôfrego, o melhor do rock´n´roll e do heavy metal disponível no acervo do aparelho. Ouso dizer que a própria máquina brilhou de modo estranho quando escolhi a sétima obra, como se aliviada e agradecida!

Assim que a última tranqueira selecionada pelo quarteto das trevas se encerrou eles correram para a calçada do bar. Voltei à mesa, para junto da minha turma, e nos purificamos por meio de música de verdade. Até alguns outros frequentadores vieram a mesa me agradecer!

Uma hora e pouco mais tarde, uma amiga, figura carimbada do bar como eu, disse que o quarteto, pouco depois de ir para o ar livre, voltou, ouviu a música poderosa e autêntica que tocava e escafedeu-se rua afora, assustado. Missão cumprida!

Mas eis que já no fim da madrugada, eles retornaram, porém ficaram na deles, apenas apreciando  o que saía da jukebox, dominada por gente de bom gosto. Em dado momento, tocava Sérgio Sampaio, gênio, mestre absoluto. Pois uma conhecida minha se achegou à rodinha em que cantarolávamos a brilhante música do bardo do Espírito Santo e em seguida cometeu o desplante de chamar para se juntar a nós uma 'amiga que também adora Sérgio Sampaio'. Quem era a tal amiga? Isso mesmo, morena insinuante 'casada que só fica com mulheres' !!!. 

Mal se achegou, passou a desfilar pose e arrogância, se dizendo a 'maior fã e entendida de Sérgio Sampaio e de música brasileira em geral, blá blá blá blá...' um poço de pose e ar de superioridade. Olhei-a com o ar mais gélido possível, a língua se coçando para disparar algo como 'conhecedora de mbp que se esgoela com tatu??? Ha ha ha ha!!!'. Mas apenas nada disse e saí da roda sem sutileza alguma. 

Pois é, eu que topei com muitos roqueiros e metaleiros posers, no decorrer da minha patética vida, fui agraciado, já quase cinquentão, com uma figura inominável: a poser de mpb!!! 

Para encerrar este relato de um evento patético em que pessoas ainda mais patéticas pontuaram, segue uma das músicas que selecionei  na máquina, para purificar o ambiente e devolvê-lo a sua verdadeira natureza, um clássico absoluto e eterno do heavy metal:

 


       

          

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