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domingo, 6 de setembro de 2020

É possível ajudar uma dama sem ter segundas intenções ou: você precisa tomar um pouco de água

 


 Recentemente, em um grupo daquele vampiro de almas chamado facebook, grupo criado para relembrar os tempos de 'juventude, baladas e loucuras' dos membros, quando frequentavam as casas noturnas de rock mais podres e divertidas que já reinaram na noite paulistana, foi posto à baila o assunto ajudar mulheres em apuros nos 'rolês' - leia-se mulheres embriagadas, com mal estar, passando maus bocados por exageros etílicos. Foi um tal de relembrar casos(ei, 'X', lembra que tal noite, em tal balada eu te ajudei a..., etc, etc), comentar, discutir, até que o tópico ficou um pouco mais interessante e começou uma típica conversa de botequim pseudo-filosófica sobre se os homens fazem isso por pura solidariedade e altruísmo ou se há outros interesses por trás, entenda-se, agir de modo desinteressado e cavalheiresco e mais tarde, em outra ocasião, com a moça já refeita e sóbria, esse bom comportamento ser porta de entrada para uma tentativa de desfrutar de seus favores. Abusar dela embriagada, jamais! Não serei ingênuo de afirmar que isso nunca ocorre em noitadas roqueiras, mas os caros leitores já perceberam que o cenário dos relatos sobre abusos sofridos por moças alcoolizadas na quase totalidade são boates 'da moda', casas noturnas caras, de boy, os típicos lugares frequentados por 'gente de bem'? Por que tais acontecimentos são tão raros nos meios roqueiro, gótico e headbanger?

Bem, retomemos, como disse, o tópico tornou-se mais interessante, até lembrou uma conversa de bar à distância(Grandes Baco, Dionisio e Ninkasi, o que a pandemia e o confinamento estão fazendo a nós?!), quando passou-se a filosofar sobre se os homens fazem isso por altruísmo ou canalhice disfarçada. E logo as próprias mulheres do grupo saíram em defesa dos homens, vários deles seus amigos, conhecidos e exs: relataram episódios de bebedeiras homéricas, vexames, gorfadas, etc em que foram ajudadas por homens e como estes foram, quase todos, gentis e respeitadores. Do alto de meus mais de trinta anos de rodagem na vida noturna, praticamente toda passada no meio roqueiro/gótico/headbanger, era isso que esperava como relato delas. 

Pois por um desses curiosos sincronismos que o universo parece engendrar apenas pelo prazer de torcer nossa limitada compreensão dele, dois dias após eu ler os comentários da dita postagem estava eu ao telefone trocando palavras doces e palavras sacanas com a moça que estrelou a última postagem. E caímos justamente nesse tópico: ela se disse ao telefone meio embriagada por ter exagerado no vinho e eu, me ofereci, meio brincando, mas mais a sério, para ir até seu lar cuidar dela e me anunciei, num tom bem canalha e melífluo, como um cavalheiro/cavaleiro que sai pela noite a ajudar damas em apuros como o dela. Ao que ela respondeu de imediato: 'sei para que você ajuda as moças bêbadas. E bom saber que você também sai à noite para isso, seu pilantra, safado!'

Retruquei tão rápido quanto e fui veemente em me defender, expondo que nos meios que frequento, é uma lei não escrita respeitar mulheres nessa situação e ajudá-las sem tentar se aproveitar da sua embriaguez. Ela não tardou a reconhecer essa verdade e rimos com vontade. 

A moral dessa história, caros leitores, é simples, óbvia e importante: existem homens decentes mesmo entre os mais safados e canalhas. Principalmente em certos meios.  Como sempre digo: canalha, mas com princípios!!


Saudações canalhas e cafajestes

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