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quarta-feira, 23 de junho de 2010

As musas dessas noites e desses dias - Parte II - Reencontrando Ana - ou: como passar a odiar uma paixão de adolescência

   Esse conto de título tão inusitado e criativo (admito, gosto de me vangloriar de minhas criações, inclusive um amigo diz que sou o maior frasista que ele já conheceu) tem como musa uma moça com a qual convivi durante o Colegial, ou Segundo Grau Escolar. A dita cuja, em meio àquele bestiário de problemáticos, bitolados e nerds, drogados, aspirantes a pensadores drogados, putas bêbadas e chatas metidas a "minas papo-cabeça" , se destacava por sua beleza mediana e por ser a figura  maior de uma categoria de meninas  que imperava naquela escola tão esquisita e doente, em termos sociais, um tipo de menina que batizei de "putinhas indecisas": caminhavam, com a segurança que só uma mulher pode ter mas ao mesmo tempo dando as bandeiras típicas de uma adolescente ainda plena de falta de jeito, entre o fingimento do recato e da seriedade (na verdade, temor de sair curtindo a vida e ficar mal vista) e as aprontações mais ou menos escondidas. Bem, creio que o termo se explica.
    A musa em questão era desejada por muitos e com bem poucos ficou/namorou/deu (oficialmente, anos depois, soube-se que seu recato era principalmente de fachada), incluindo por este que vos escreve e por um rapaz que é o verdadeiro protagonista do conto: um cara que naqueles tempos patéticos era o saco de pancadas moral de boa parte da escola, o sujeito em que os aspirantes a fodões, machões loucos para virarem bichinhas loucas e quetais descontavam suas frustrações e vergonhas, um cara estranho e inteligente, que tinha gostos musicais e literários imperdoáveis em um ambiente dominado por pseudo-pensadores e roqueiros limitados. Bem, esse cara mudou muito, hoje (aliás, já há um bom tempo) em nada lembra o coitado daquela época, transformou-se em um fodão, comedor e canalha de estampa. Como é dito por um amigo dele (eu), em uma passagem do conto: " você superou todos nós".
    Encontrei esse cara um dia e em meio a muitas cervejas e risadas, narrávamos um ao outro nossas últimas desventuras e aventuras com o mulherio. Ele contou que encontrou-a casualmente, no metrô e que ela o olhava de longe, com um olhar  de divertimento e superioridade, como se ela ainda fosse sua paixão eterna dos tempos de colegial e que bastaria ela estalar os dedos e ele iria de joelhos até ela, para dar-lhe a atenção que ela merecia. Ele, agora um homem vivido e sábio olhou com consumado desprezo para aquele corpo assustador de tão caído e maltratado (e ela tinha a mesma idade dele na ocasião, de vinte oito para vinte nove anos, apenas), compreendeu o que o olhar dela expressava e pedia e não teve dúvida: virou a cara e desceu na estação seguinte, sem olhar para trás. Perguntei-lhe o que teria acontecido caso ele se aproximasse e conversassem, tantos anos após. A resposta: "acho que falaria amenidades educadas, despistaria o possível convite dela para nos vermos e lembraria com raiva daquele olharzinho de mulher superior, pois ainda sou um cavalheiro."
    Tempos depois, durante as várias noites movidas a álcool em que criava  os rascunhos das Noites Cafajestes, coletando de minha memória as histórias que seriam as bases dos contos, lembrei-me desse evento e pensei: "e se ele fosse falar com ela, marcasse um encontro e  NÃO FOSSE UM CAVALHEIRO, mas um autêntico canalha?"
    E assim nasceu essa singela homenagem a uma mulherzinha que certamente mereceu todas as agruras que sofreu na mão dos homens.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Da euforia à humilhação em poucos segundos Ou: Sobre a condição masculina

    O episódio aconteceu com um amigo, professor de ensino médio, jovem e canalha como eu. É uma bela ilustração de como nós machos podemos ter toda nossa força, alegria, auto-confiança e tudo mais que nos faz se sentir capaz de enfrentar o mundo com as mãos nuas destruído em poucos segundos, com uma ação mínima ou pouquíssimas palavras.
    A escola em que ele expira pecados, tentando enfiar conhecimento e cidadania na cabeça de uma garotada que quer ser burra e animalesca (desculpem por ofender os animais), preparou uma comemoração/homenagem para duas professoras, muito queridas por toda comunidade escolar, uma vez que ambas tinham acabado de  receber o comunicado de oficialmente aposentadas. Meu amigo, que é músico, juntamente com mais alguns professores e um grupo de alunos também instrumentistas, preparou apresentação musical, discurso, faixas com frases afetuosas e tudo mais. A homenagem se daria no pátio da escola, que possui um palco de médio porte.
     Chega o grande dia, os alunos são encaminhados para o pátio, as professoras, incluindo as homenageadas, se perfilam diante o palco, os músicos e oficiantes estão a postos. Após duas falas ( uma delas, intragável, segundo ele, pura pieguice moralista), é hora da música. Ele se posiciona diante o microfone, faz um teste rápido, olha para o resto do grupo, dirigindo aquele olhar de "vamos lá!" e eis que um quarteto de lindas mocinhas na flor da idade, todas suas alunas, irrompe num coro ensandecido: " Fulano, tesão, bonito e gostosão! Fulano, tesão, bonito e gostosão!"     
       Ele se perde por momentos, tomado por devaneios eróticos. Como qualquer macho, de qualquer idade, condição ou categoria, diante de tal furor, mesmo que de brincadeira, põe-se a imaginar-se possuindo aquelas lindas ninfetas, uma a uma, ou todas de uma vez. Ele já tinha notado que pelo menos duas delas tinham acentuada queda por ele, mas tal demonstração pública faria qualquer macho, repito, sentir-se pronto a possuir todo o mulherio que surgisse a sua frente. 
     Sua imaginação libidinosa toma asas... afinal, são todas alunas de terceiro ano de ensino médio, que em breve deixarão a escola e duas já ostentam dezoito aninhos.  Se agir direito, o risco de encrenca é quase zero. Sim, meu amigo, nesse momento, deixou de raciocinar, somente a libido o governa agora.
      O clímax? Os demais músicos, todos homens, talvez tomados de inveja, talvez para avacalhar, talvez para dar uma lição a seu professor que estava se julgando o comedor, talvez por pura viadagem,  interromperam os delírios sexuais do fodelão: o cercaram e enquanto o abraçavam e o apertavam gritavam: "professor, nós te amamos!!!!"
       Liberto daquilo após alguns segundos, tudo que ele consegue fazer em seguida é voltar ao microfone e balbuciar: " essa foi uma das coisas mais nojentas que já me aconteceu."
       A homenagem prosseguiu normalmente e conforme o roteiro estabelecido, apesar do professor-galã ter errado várias passagens e desafinado muito.