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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Noivinha Satânica

   Ela surgiu na pista de dança, bem diante de mim, que estava parado no balcão, bebendo um vinho autêntico, bom e barato - uma beberagem quase impossível naquele porão pseudo-alternativo,devo informar -. sinuosa, lânguida, movimentos curvílineos e sedutores de um corpo alvo metido em uma saia  feita de camadas e camadas de renda negra e em um corpete de cor viva, justo como tinha de ser. E a música que a trouxe à pista era ainda mais improvável que o vinho: uma das minhas canções  favoritas do eterno Dead Can Dance, feita para um súcubo como aquela linda e pequenina criatura destroçar os machos presentes, uma peça sonora extremamente improvável de se ouvir naquele antro de ignorância musical, social, cultural e mental.
   Acompanhei seus movimentos, a beleza do movimento ritmado dos quadris como que tornava-se parte da carne  daquele corpinho pequeno e maravilhoso; demorei para sair do transe, beber o último gole de vinho e partir no encalço da fada noturna, após a música e a sessão de sedução findarem.
   Encontrei-a em uma mesa, com amigos. Nitidamente ela não tinha relações amorosas ou carnais com nenhum deles ou delas, assim, sentei-me e perguntei onde e como poderia ser agraciado com a dádiva de vê-la exibir seus dotes de dançarina do ventre(foram essas as palavras que usei). Ela sorriu, puxou minha mão e pediu que sentasse. 
  Nos entendemos sem dificuldades, nossas preferências e opiniões incentivavam um contato mais próximo.Mas como já disseram os grandes e verdadeiros filósofos da humanidade, o entendimento entre os corpos rara ou nunca garante entendimento entre os espíritos e todos os recalques, desejos, frustrações, neuroses, medos e taras que habitam a tal essência eterna aprisionada no desprezível e sujo corpo: após uma bela harmonia físico-corporal, durante a conversinha mole de sempre, deixei escapar algumas informações sobre  minha condição e história que entregavam: eu não era o homem perfeito que ela, mulher do rock pesado, curtidora de black metal, rainha das boates góticas do Centro de SP, fluente no idioma anglo-saxão, procurava para com ele construir uma família burguesa, estável e feliz. Decepcionada e enraivecida, não mais permitiu nenhum beijo ou carinho, apressou-se em zarpar para a segurança da casa paterna e, claro, o nome de guerra que usava na principal rede social da internet e o telefone que deixou, antes de sumir, eram falsos.
    E eu, no dia seguinte, experimentando um improvável, paradoxal e indescritível misto de pasmo e sensação de previsibilidade para com o acontecido, ponderava, um peso nos ombros, apesar da noite ter dado aquilo que nós homens no fundo sempre buscamos dela: será que algum dia toparia com uma mulher diferente de fato, que realmente despreza o sonho do príncipe encantado repleto de posses, energia e burrice e que lhe daria uma vidinha segura e eterna?

2 comentários:

  1. "o entendimento entre os corpos rara ou nunca garante entendimento entre os espíritos". Grande verdade. Evita um monte de equívocos ter isso em mente 24h por dia (principalmente naquelas horas).

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  2. Alex, quando tiver um tempo, leia este post: http://opiofagia.blogspot.com/2010/03/aliciadora-feliz.html

    Bacana "Noivinha satânica" ! Até divulguei no Twitter!
    Abs!

    Daniel

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