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sábado, 18 de dezembro de 2010

As musas dessas noites e dias - parte III - A terceira noite do Free Jazz Festival de 1998

Mesmo os escritores, redatores, os escribas em geral mais calejados e talentosos são frequentemente atormentados pela inquietante dúvida: como iniciar o texto, como fisgar o leitor já na primeira linha? Sou um escbriba calejado mas talento, como os leitores bem sabem, jamais se insinua no parco horizonte que esse blog desenha. E como, neste exato momento em que escrevo, uma chuva fria e triste cobre São Paulo, como a chuva que cobria a cidade na noite em que se passa o terceiro conto das Noites Cafajestes, que essa reminiscência sirva de introdução, inclusive e principalmente porque rememorar a musa inspiradora desse conto combina com essa tarde melancólica, cinzenta e amarga.
Cito diretamente a noite em questão, a começar pelo título, porque  "A terceira noite do Free Jazz Festival de 1998" é o mais autobiográfico dos contos do livro, ele é composto quase na totalidade por lembranças e pelo gosto de fel e raiva engolida à força que essas ainda provocam. Mudei somente os nomes das personagens; o protagonista, ainda que dono de uma loja de cds na Galeria do Rock e músico medíocre, é calcado  ao máximo em minha aparência e personalidade, apesar de que não sou e jamais fui proprietário de loja de qualquer coisa e sou um músico horrível.
Eu estive na noite em questão do Free Jazz de 1998, em que ocorreu a primeira apresentação nas Terra Brasilis do Krafwerk e do Massive Attack; os aficcionados por música eletrônica sabem bem que evento memorável foi. Infelizmente, para mim ela ainda é memorável por outros aspectos e não entrarei em detalhes, sobre os eventos extra-shows,  pois essa seção do blog não tem como função oferecer trailers verbais dos contos, mas tão somente executar uma exaltação distorcida às minhas "musas questionáveis" (mais um termo que tomo emprestado do grande Chuck, obrigado, cara!). Se está interessado, baixe o livro e leia, oras. Custa uma bagatela...
A moça retratada nessa história patética foi, pura e simplesmente, a paixão não-correspondida mais torta, patética, mal explicada e que mais deixou encruamentos não-resolvidos no desgastado coração deste sujeito.
Sim, fiquei perdidamente apaixonado por ela, minha relação amorosa oficial de então sofreu  danos terríveis, não de imediato, mas no decorrer do tempo, conforme os estragos emocionais e mentais por ter sido usado de maneira tão rasa e tênue se aprofundavam, me estragando mais e mais. 
Direto e preciso: essa mulher foi o melhor e mais bem acabado exemplar que encontrei, em toda minhas andanças pela vida e pelo universo feminino, da mulher que nunca superou o trauma de ter sido uma  garotinha desprezada pelo pai e que como vingança, inconsciente ou não, tratou todos os homens que passaram por sua vida com o mesmo desdém e falta de amor com que o primeiro homem de sua vida a tratou. Em suma, uma vaca, uma biscate, uma manipuladora fria que apenas usou os homens para satisfazer seus interesses, sempre se insinuando, destroçando corações e rindo dos escombros que deixava para trás.
Como dotes físicos para deixar nós, macacos que somos, por completo no cio e imbecilizados, nunca lhe faltaram, podem imaginar o estrago que ela causou homerio a fora.
Sim, minha paixão não foi correspondida - jamais consegui dela sequer um simples roçar de lábios!
Não,  nunca mais falei com ela, há mais de uma década que não trocamos uma palavra. Nesses anos encontrei-a por três vezes na noite de São Paulo; ambos estávamos acompanhados. Em todas, ela dirigiu-me um olhar de superioridade e de certa surpresa, eu tentei mostrar desprezo, mas só consegui trair a raiva e a frustração que ainda me atormentavam.
O Gran Finale: vocês que lêem o blog e porventura leram o livro devem ambos a essa Lilith pós-moderna: Noites Cafajestes e Alguns Dias Canalhas teve sue gênese em uma tentativa desesperada de expurgar, de fazer catarse literária do amargor, da raiva e tudo mais que ela me causou. Pus-me a imaginar, incessantemente, como seria se ela tivesse me concedido seus favores e quais seriam os desdobramentos. Em certo tempo, essas idéias, imagens e situações me pesavam tanto que tinha de expulsá-las de minha cabeça e decidi escrever uma porção de contos, em que cada um seria desenvolvimento de uma das situações que eu tinha imaginado com ela. Quando iniciei de fato o trabalho, claro, o que parecia brilhante no interior de uma mente masculina atormentada mostrou-se risível e pueril no papel. Assim, somente duas daquelas histórias sobreviveram: o relato da " noite chuvosa de sábado, São Paulo, 1998" (esse, o título original do conto), em que ocorreu a já citada segunda noite do FreeJazz , noite em que tudo relatado acima ficou às claras, e o conto " Como a maternidade é maravilhosa (...) Ou: uma transa de despedida", em que levo ao extremo uma das elocubrações sobre como teria sido uma relação amorosa com ela.
Essa é, portanto, a maior e verdadeira musa das Noites Cafajestes e dos Dias Canalhas, pois a que, com sua existência sedutora e maléfica, inspirou o projeto.


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