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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Outro relato do caçador noturno

O caçador noturno mais uma vez acorre para o buraco que foi, é, e sempre será a mais importante casa noturna da vida noturna/boêmia/putanheira dele, de seus amigos e amigas, da geração a que pertencem (e outras), o templo noturno em que toda uma população que ainda pulula por São Paulo  professa seu culto, a saber, fazer do profano nosso sagrado.
Assim, mais uma vez lá foi ele, em busca de companhia, conversas, acabar-se na pista de dança subterrânea, o lugar mágico em que o tempo não só é suspenso, mas regride e todos nós, por breves momentos, voltamos a ter nossos gloriosos e inconsequentes vinte e alguns anos.
A noite transcorreu aqui e ali, durante seus espaços e instantes, e tudo mais que há entre estes; a madrugada seguia firme, já indicando que iria desaparecer em breve, que portanto a noite de aventuras e caçadas estava findando, quando o amigo-em-armas de tantas noites e patifarias,  que travava uma animada conversa com uma moça ainda mais animada, faz sinal para ele, o caçador noturno, juntar-se à conversa. Sua cada vez mais aguçada pelos anos intuição emitiu um sinal de que algo trágico ou cômico (ou talvez os dois predicados) viria dessa convocação; sim convocação, como verão.
O amigo-em-armas não se demorou: apresentou a moça ao caçador noturno (na verdade o contrário: continue lendo e entenderá) e logo informou que era grande amiga de uma certa dama com a qual ele, o amigo, já se atracou  umas tantas vezes, o que alarmou o escaldado sujeito que garatuja estas linhas: o amigo-em-armas, ao apenas trocar algumas carícias bucais com essa certa dama em questão por pouco não meteu-se numa encrenca imensa - e claro, nós dois consideramos imediatamente, pautados pela limitada lógica masculina, ainda por cima afetada pelas várias cervejas  que entornáramos, que o simples fato de ser amiga daquela encrenca fazia da moça outra encrenca em potencial.
Nada demorou para o amigo-em-armas expôr, numa pressa e ênfase que soaram estranhas e gratuitas, um dado sobre o caçador noturno, uma sua prática que ao mesmo tempo indigna as mulheres e muita da vez as deixa em fogo, algo que não é ilegal nem criminoso, mas moralmente reprovável, isso se o caro leitor acredita na inocência feminina... A moça recebeu a informação/relato, fez caras e bocas de espanto e indignação, desfiou um discurso de censura e ameaças, mas a cada palavra sorria mais e mais e mais se alisava no caçador noturno. 
Então, súbito e sem aviso, o amigo-em-armas se afastou, caminhando na direção do mictório masculino, ou assim parecia... 
Após o previsível e inevitável, que durou alguns minutos, e deve-se confessar, foi até mesmo agradável e divertido, o caçador noturno tratou de se desvencilhar da amiga-potencial-encrenca, antes que o contato tomasse um vulto maior. Foi fácil fazê-lo, pois a moça, nada inocente (esqueceu-se de censurar a prática imoral do canalha, até mesmo de que ele fizera essa prática alguma vez, com uma rapidez estonteante) entendeu os sinais e o contexto e também se afastou bem rápido, rápido demais, como se estivesse ansiosa por algo (ansiedade que será explicada mais abaixo).
Livre e solto, o caçador noturno juntou-se à minúscula fila para liquidação da conta da beberagem, minúscula dado que a imensa maioria dos presentes na noite em questão já havia debandado, pagou e pôs-se a procurar o companheiro-de-armas e canalhices, que surgiu, como se emanado das trevas da pista de dança, um sorriso sacana nos lábios.
Fim da noitada, cervejas nas mãos, a manhã irrompendo, defronte ao nosso templo maior trocamos perguntas e respostas e confirmamos o óbvio: sim, o amigo-em-armas  'despachou' a moça, pois para este canalha ela seria apenas mais uma qualquer apanhada na noite, da qual saberia se livrar devida e facilmente se o potencial encrencatício dela um mísero decigrama se manifestasse; e sim! ele, o amigo-em-armas não conseguiu fugir de fato da moça, teve de, digamos, deixar uma leve e ligeira marca na memória e lábios da moça.
Rimos muito ao sacarmos a patetice e canalhice da mais rasteira de toda a situação,  demos as mãos no aperto fraternal de despedida e seguimos cada um para seu esconderijo, felizes e plenos.    

Saudações canalhas e cafajestes

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