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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Breves apontamentos das últimas noites do caçador noturno



Noite de sábado, por volta de meia-noite:

- O caçador noturno não resistiu aos apelos dos eflúvios noturnos que percorrem o Centro de São Paulo e dominam os mais sensíveis a aventuras e chamados por diversão (ou os mais inconsequentes): rumou para um dos mais afamados e arriscados muquifos do lugar, nos baixios do Anhangabaú, antro em que já reinou, em outros tempos, e que evitou por meses, nos últimos tempos, motivado por um misto de enfado e temor. Não permaneceu por mais de três minutos, suficiente apenas para cumprimentar alguns poucos conhecidos, pois recebeu o telefonema de uma outrora amante e hoje amiga de todas as horas e necessidades, que embriagada e metida em alguma confusão, ali por perto, pediu pela ajuda do seu cavaleiro noturno, que partiu de imediato, em socorro à dama da noite de perfume inebriante como a planta homônima. 
Assim, parte o caçador, apressado e altivo como um cavaleiro que atende o chamado de uma princesa, rumo aos contrafortes do topo do Centro, vencendo célere os fluxos da rua Angústia.
 
Noite de sábado, um pouco após a meia-noite:

- A amiga em apuros está mais uma vez nos braços do caçador noturno, sua pele macia e sedosa de moça na flor da idade a roçar e se aninhar na pele das mãos e braços  dele, pele curtida pela noite e pelos anos que muito aprecia esse contato. A encrenca em que a linda dama estava metida mostrou-se nada séria: apenas uma embriaguez exaltada, um surto de saudade do caçador noturno e sua presença cheia e viril - palavras dela - e o desejo de desfrutar da companhia dele por algum tempo. Sabedora, talvez graças à intuição feminina, talvez por farejar algo na brisa noturna, de que ele estava nas proximidades, o convocou para ampará-la na embriaguez e dar-lhe um bom fim de noite.
Dali a menos de uma hora, ela e sua amiga, que a acompanhava na noitada etílica, embarcam em táxi providenciado pelo caçador, rumo a segurança de seus lares.

Uma noite qualquer:

O caçador noturno, após um compromisso profissional imprevisto e inadiável, resolve voltar para sua masmorra a pé. Ao descer a rua da Consolação, rumo ao Centro, ali nas proximidades da  Paulista passa por um bar ao qual jamais deu atenção ou sequer entrou uma vez que seja, e diante deste, na calçada,  vê uma garota entre vinte e cinco e trinta anos sendo galanteada por um sujeito cuja figura causa um calafrio no caçador, pois parece uma projeção deste daqui a alguns anos: roupas joviais, mas na medida exata para um quarentão não cair no ridículo de imitar jovens na casa dos vinte e parecer 'antenado', cabelo e barba ainda mais grisalhos que os dele. 
Alguns metros depois, ele não se contém, volta-se para contemplar o desfecho da cena e com satisfação vê que o sujeito foi bem-sucedido.  Ao reprimir o desejo de ir até o recém-formado casal, parabenizar o sujeito e apresentar-se como um irmão-em-armas da noite, que são membros de uma irmandade cujos membros não apreciam se assumir como tais, a rua da Consolação parece-lhe mais escura e solitária do que realmente é; assim, ele toma a primeira rua que leva para a direita, apressado, pois mesmo a juvenalha - esse termo  foi pego emprestado da maior e mais sábia mulher que conheci na vida - da rua Angústia lhe pareceu atraente, naquele momento.

Uma noite qualquer, pouco mais tarde:

Como toda ilusão dura pouco, e seu final sempre é amargo, as criaturas que povoam e sujam mais e mais rua Angústia e arrabaldes, em todos os sentidos possíveis, deram um pequeno golpe nas intenções do caçador noturno, que preferiu embebedar-se e se refugiar logo em sua masmorra.  

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