Noites Cafajestes à venda

Noites Cafajestes está de novo à venda, agora no site da Amazon Brasil: clique no link abaixo, e digite o nome do livro na pesquisa loja kindle, no alto da página.
Um verdadeiro guia de comportamento e sabedoria canalhas e cafajestes por R$6,00.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Reflexão amarga


Sou um grande apreciador da obra de Joseph Campbell, conhecido pelos leigos, semidesinformados e curiosos em geral sem paciência para leituras exigentes, que se esbaldam com a superficialidade da 'infernet', por ter forjado ou no mínimo tornado mais fácil o conceito da jornada do herói, tão diluído internet em português afora em um sem-fim de sites de escritores iniciantes que por terem escrito um ou dois livros se metem a querer ensinar os segredos da escrita a outros escritores iniciantes. E assim vai a  juventude educada pela internet.
Bem, não sou desses, conheço a obra desse mestre há mais de duas décadas, li vários de seus livros, de cabo a rabo, e o último a ser degustado, lentamente, algumas poucas páginas por manhã (confesso: muitas vezes, já era quase tarde), logo após acordar, enquanto me entupia de cafeína para curar as ressacas brabas de sempre e, evitando a luz do sol a entrar pela janela, repassava os artigos, revisões e trabalhos que gritavam por minha atenção, foi o da capa acima, uma coletânea de textos, ensaios e palestras que ele fez/elaborou durante décadas, sempre versando sobre as divindades femininas e sua importância para as mitologias do mundo e o universo mental e cultural da humanidade. Obra maravilhosa, obrigatória de ler e que me suscitou vários pensamentos e reflexões, pois Campbell, genial e visionário como só ele, aqui e ali em alguns trechos, sem ter previsto ou planejado - os textos datam de um período que abrange de 1972 a 1986 - desfere golpes de morte na boçalidade típica do discurso simplista, radicalzinho e vazio dos radicais que tomaram de assalto movimentos progressistas e 'justiceiros sociais' (feminazis, 'lacradore(a)s', lgbts histéricos, etc, etc, etc), com suas observações muitíssimo lúcidas sobre as relações entre os sexos, os arquétipos que regem essas relações e outras coisas mais interessantíssimas. 
Esses apontamentos ficaram reverberando na pobre cabeça danificada deste escriba por semanas, vezes sem conta eu abria o livro, a qualquer hora, sem motivo definido algum, em busca de alguma dose dessa sabedoria. E eis que,  em uma dessa sessões em que eu bancava o pensador, xícara de café na mão, veio o pensamento que é o verdadeiro tema desta postagem:
Sou parte de uma geração de homens dito 'esclarecidos', aos quais foi ensinado que as mulheres deveriam ser exaltadas, elevadas e até mesmo deificadas, que as mulheres seriam deusas que agraciaram nós homens com sua presença e favores. Certo, nós acreditamos nisso por algum tempo( breve ou longo, depende de um sem-número de fatores, os mais importantes fáceis de serem enumerados pelo leitor sábio) e quando eu e os outros infelizes(muitos milhões, eu temo) que caíram nessa conversa perceberam o tamanho desse papo furado o estrago já estava feito, foi muito grande e até hoje ainda sofremos as consequências de refazer nossos conceitos e relações  sobre e com as mulheres pós essa hecatombe nuclear.  Pois  foi isso que essa leitura me mostrou, ou melhor, pôs em palavras claras e acabadas uma sensação amarga que persegue a nós homens que acreditamos nisso por algum tempo, um mal-estar que nos fustiga há muito: acreditávamos que as mulheres eram deusas e quando descobrimos que elas eram meros seres humanos, como nós, a rebordosa(ressaca da braba causada pelo consumo de 'coisas' pesadas, para os preguiçosos em procurar) foi e ainda é muito intensa. E a leitura desse grande livro também deu contornos claros a outra força, outra a ação que é oposta a esse mal-estar e nos impele a buscar, experimentar  e tentar conhecer todas as expressões do infinito que é  a condição feminina, a saber, o idealismo de crer que algumas mulheres podem sim ser divindades em nossa existência, podem estar muito além e acima da mera, baixa, mesquinha e desprezível humanidade e que um dia encontraremos uma delas por aí, para nos conceder alguns lampejos de sua radiância a nós pobres homens, o que já seria mais que suficiente.

Saudações canalhas e cafajestes      

Nenhum comentário:

Postar um comentário