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domingo, 14 de janeiro de 2018

A noite é repleta de armadilhas Ou: Friday Night Feeling

Este escriba terminava a noite no seu mais que habitual bar da rua Angústia, bar em que já é conhecido, um dos frequentadores símbolos, papeando na porta  com um velho amigo que não via há meses, e que encontrara  por puro acaso. A noite já findava, todos manifestavam o desejo de se recolher para suas fortalezas particulares, quando o amigo, antes de partir para o metrô mais próximo, se despede, não sem antes avisar a este escriba: 'Cara, olha essa morena aí do lado, está te encarando, te medindo, descarada e pesadamente!'. Só então este canalha repara na moça de pele mestiça, cabelo volumoso e cacheado, corpo farto. E ela de fato está olhando de modo aberto, ostensivo, o que é retribuído com um olhar tão lascivo quanto e um estudado sorriso cafajeste. Mas eis que, antes mesmo do canalha se achegar à moça e estabelecer contato verbal, um sujeito sai do interior do bar, se dirige a ela, trocam palavras furtivas, de cabeça baixa; em seguida o tal indivíduo dirige um olhar para lá de estranho para este escriba, um olhar não de hostilidade, de marcação de território, mas de...curiosidade e de, quiçá, interesse, o qual encheu este canalha de repelência e causou um arrepio que, garanto, em nome de Afrodite, Baco, Dionísio, Freyja e todas as importantes divindades da lascívia, luxúria, desvario e arrebatamento, não foi de excitação,muito pelo contrário, arrepio que logo se transformou em uma ordem para não se aproximar daqueles dois e ficar onde estava, a qualquer custo, tão estranho e obscuro tornou-se o clima reinante naquele minúsculo trecho da calçada do Centro de São Paulo. Caros leitores, este escriba ficou abertamente amedrontado, mas no instante seguinte um carro para exatamente a nossa frente, ambos se dirigem ao veículo, perguntam algo e entram no dito uber para desaparecer na noite agonizante, não sem antes dispararem um último e ainda mais aterrador olhar. 
Em silêncio e parado este escriba  se recompõe, entra no bar, encontra o proprietário e comenta, sem dar maiores explicações: 'Bicho, como a experiência, ser vivido e rodado, é importante para atravessar uma noite nas ruas, nas noitadas, sem se dar mal. Acho que minha vivência e minha intuição acabaram de me safar de se tornar estatística de alguma coisa muito ruim e que acontece aos montes por esta cidade e este mundo podres. É, a noite é cheia de armadilhas, e creio que acabei de escapar de uma!'

Mais tarde, rabiscando o rascunho que se tornaria esta postagem, não pude deixar de lembrar de uma grande canção de um grande artista que sempre admirei e o qual criminosamente esqueci, nos últimos anos, canção a qual, claro, possui relação temática com este texto. Assim, deleitem-se com uma das obra-primas de Nick Cave, atentando para o seguinte trecho da letra: 

" Well, the night is dark
And the night is deep
And its jaws are open wide"

       

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