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Muitas vezes, ao retornar para casa em madrugada avançada de alguma noite de final de semana, a bordo de um táxi ou carro de aplicativo, este, devido aos lugares que frequento e por morar no Centro, desce a rua da Consolação. E sempre, sempre, quando por ali passo após as quatro e antes das cinco da manhã, a calçada da estação da linha amarela situada nessa ilustre rua de São Paulo, estação que recebe o nome daquele bairro paulistano habitado majoritariamente por gente metida a besta e arrogante, está tomada por grupos de jovens que passaram a noite em 'rolês' nas proximidades - Rua Augusta, claro, impera - esperando o metrô abrir para retornarem a suas casas e vidas comuns, após se divertirem, se entorpecerem e se acabarem nas noites feéricas que a cidade oferece.
E sempre que olho para eles, lembro de quando eu fazia o mesmo, lembro do começo de juventude, lembro de coisas boas que ocorreram naquelas noites, tento esquecer outras tantas coisas que se passaram na mesma época, às vezes na mesma noite.
E silenciosamente os cumprimento e celebro essas novas gerações, com todos os erros e esplendores que cometem (praticamente idênticos aos que todas as gerações antecedentes cometeram) e espero que essa cena se perpetue.
Este escriba estava com uma moça com a qual tem encontros frequentes e muito agradáveis, circulando por um shopping center da cidade, antes do evento principal para o qual nos encontramos, quando ela avistou uma loja/quiosque da marca de chocolates acima e pediu para conhecermos o local; como este escriba gosta de agradar às mulheres que considera merecedoras de mimos e também, como qualquer ser humano saudável, é bem chegado a chocolate e doces, aquiesceu de pronto.
O local era um típico templo moderno ao consumismo: bonito, arrumado, todas as mercadorias sedutoras, embalagens idem, tudo para levar o incauto que porventura entre a gastar e gastar... eis que fuçando aqui e ali topo com algo que me deixa estupefato, paralisado. A moça se aproxima de mim, intrigada, e pergunta o que houve. Apenas aponto para o objeto e desato a rir. Ela olha, entende minha surpresa e ri também. Rimos tanto que o vendedor que nos ciceroneava se aproximou e perguntou o motivo das risadas. Não me fiz de rogado e relatei a história do meu amigo e a 'novinha do Chevette', registrada aqui nesta tranqueira nos inícios de 2021. Ele riu junto, nos incitou a comprar (claro), o que fizemos. E era óbvio que essa joia oportunista do capitalismo brazuca tinha de entrar aqui nesta tranqueira, assim tirei a foto acima usando o pretexto de que mostraria a meu amigo em questão.
Em tempo: comprei, para meu consumo, dois exemplares de outro sabor do ilustre chocolate, aquele que imita o sabor de de uísque, cujo gênero musical estampado na embalagem é o rock´n´roll - claro! - ao lado de uma guitarra elétrica, além de presentear a moça com um bom sortimento de quitutes.
O dono do bar favorito deste escriba, preciso e mortal como sempre em suas observações sobre a vida em geral, ao comentar sobre fugir de mulheres que são encrenca, dor de cabeça.
E um bônus track sobre o tema, que este sujeitinho formulou em seguida:
Certas mulheres não são nem chave de cadeia, nem esse nível atingem, são apenas perda de tempo.
As Libertinas é um filme brasileiro de 1968, dividido em três episódios - o mais longo e melhor, dirigido por Carlos Reichenbach, que os leitores mais antigos do blog sabem, é um dos cineastas favoritos deste sujeito.
Não citarei algum diálogo ou narração desta obra, para atiçar o interesse dos leitores, como fiz com outras criações, recomendo-a porque revela como pouquíssimas, com muita acuidade, apesar de uma certa precariedade e simplismo na construção e drama, quão vulgar, recalcada, hipócrita, medíocre e infantil foi, é e certamente sempre será a classe média paulistana e como ela 'solta a franga' (de maneira desastrada, claro!) ao passar alguns dias no seu paraíso particular (?) que são as praias do litoral paulista, como seus instintos sexuais são liberados de modo tão patético. Ou seja, a visão de mundo deste filme comunga completamente com a visão de mundo desta tranqueira.
Mal entrei no meu bar favorito e usual e após pegar a primeira ipa da noite, cumprimentar os notívagos que sempre estão por lá nas noites de sábado e me juntar a eles em nossa mesa habitual, reparei nos dois aparentes casais nos fundos, que dominavam a jukebox e pulavam ao som da música que emanava do aparelho (para ser exato, reparei nas duas mulheres, é claro! A morena é, digamos, uma 'velha conhecida' minha e dos leitores também: protagonizou postagens recentes - é aquela sujeita metida a sedutora irresistível que numa ocasião se insinuou para mim e um tempo depois posou de mulher decente que só pode 'pegar outras mulheres'...) A outra, que eu não vira antes, era uma monumental ruiva, alta, cabelo cacheado e cheio, metida em roupas de lycra pretas e bem justas, um delicioso protótipo de roqueira/metaleira, um tipo de mulher que já foi abundante nas noites do Centro de São Paulo. Havia dois caras com elas. O acompanhante da morena era o tipinho que o dono do bar disse, com conhecimento de causa, não ser mais que 'o corno oficial da vez dela', vulgo maridão. Já o outro cara, aparentemente, estava apenas cercando a ruiva e nada tinha se consumado ainda, ou assim parecia.
Quando adentrei o local, saía da máquina de música uma seleção de new metal, esse heavy metal moderninho; audível, sem incomodar. Daí veio uma sessão de quatro ou cinco barbáries sonoras do grupelho que atende pelo nome de legião urbana emparelhadas, o que fez meus sentidos e intuição ficarem em alerta (sim, eles dominaram a jukebox, enfiaram algumas cédulas no aparelho e programaram umas quinze músicas, pelo menos).
Interessante que todas as músicas eram cantadas (melhor seria dizer 'gritadas', 'guinchadas'), palavra a palavra, pelos quatro. Pois encerrada a ladainha sonorífera de renato russo, o mais medíocre poeta do óbvio da música brasileira, eis que a máquina inunda o bar com um...pagode de sofrência, de dor de corno!! E a cena inominável: os quatro cantando a maldita e miserável letra a plenos pulmões (as duas moças à frente, comandando a cantoria). A turma da minha mesa nos encaramos perplexos, incrédulos, petrificados. Alguns cogitaram ir até o quarteto animado e dar um esculacho, mas claro que a ideia foi abandonada de imediato. Algumas tranqueiras depois, todas cantadas direitinho pelo quarteto nada fantástico, eis que o fundo do poço musical se escancara e uma coisa horrenda, macabra, um pop eletrônico cantado (?) por duas vozes femininas púberes e desafinadíssimas toma o bar. Não me contenho, avanço até a jukebox, ignorando se o quarteto está me olhando ou não e leio o nome da obra das trevas: não satisfeitos em pôr para tocar pagode de corno em um dos dos últimos bares de rock da rua Augusta, elas (pois só pode ter sido escolha das moçoilas) escolheram uma das armações mais ridículas da indústria pop da história, aquela ridícula e execrável duplinha russa que infernizou os anos 90 (não por acaso, os anos mais ridículos da história da música pop), as duas garotinhas que posavam de casal de lésbicas - armação, teatro, óbvio! - e se intitulavam tatu!
Sim, caros leitores, sábado à noite em um bar de rock no Centro de São Paulo e quatro idiotas infectam o ambiente com pagodinho e tatu!!!
Me contendo para não ser grosseiro ou encrenqueiro, olho mais uma vez para a telinha da máquina e vejo que a tortura programada está terminando. Saco uma nota de cinco reais e uma de dois da carteira e seleciono, sôfrego, o melhor do rock´n´roll e do heavy metal disponível no acervo do aparelho. Ouso dizer que a própria máquina brilhou de modo estranho quando escolhi a sétima obra, como se aliviada e agradecida!
Assim que a última tranqueira selecionada pelo quarteto das trevas se encerrou eles correram para a calçada do bar. Voltei à mesa, para junto da minha turma, e nos purificamos por meio de música de verdade. Até alguns outros frequentadores vieram a mesa me agradecer!
Uma hora e pouco mais tarde, uma amiga, figura carimbada do bar como eu, disse que o quarteto, pouco depois de ir para o ar livre, voltou, ouviu a música poderosa e autêntica que tocava e escafedeu-se rua afora, assustado. Missão cumprida!
Mas eis que já no fim da madrugada, eles retornaram, porém ficaram na deles, apenas apreciando o que saía da jukebox, dominada por gente de bom gosto. Em dado momento, tocava Sérgio Sampaio, gênio, mestre absoluto. Pois uma conhecida minha se achegou à rodinha em que cantarolávamos a brilhante música do bardo do Espírito Santo e em seguida cometeu o desplante de chamar para se juntar a nós uma 'amiga que também adora Sérgio Sampaio'. Quem era a tal amiga? Isso mesmo, morena insinuante 'casada que só fica com mulheres' !!!.
Mal se achegou, passou a desfilar pose e arrogância, se dizendo a 'maior fã e entendida de Sérgio Sampaio e de música brasileira em geral, blá blá blá blá...' um poço de pose e ar de superioridade. Olhei-a com o ar mais gélido possível, a língua se coçando para disparar algo como 'conhecedora de mbp que se esgoela com tatu??? Ha ha ha ha!!!'. Mas apenas nada disse e saí da roda sem sutileza alguma.
Pois é, eu que topei com muitos roqueiros e metaleiros posers, no decorrer da minha patética vida, fui agraciado, já quase cinquentão, com uma figura inominável: a poser de mpb!!!
Para encerrar este relato de um evento patético em que pessoas ainda mais patéticas pontuaram, segue uma das músicas que selecionei na máquina, para purificar o ambiente e devolvê-lo a sua verdadeira natureza, um clássico absoluto e eterno do heavy metal:
O caçador noturno estava no seu bar favorito, conversando com conhecidos e amigos, bebendo, e claro, observando o ambiente em busca de alguma 'musa questionável' (grande Chuck, autor desse termo lapidar, por onde andas?); pois tanto procurou que ela surgiu: uma criatura insistente, pegajosa, até mesmo desagradável em alguns momentos, dada a sem mais nem menos se achegar nos homens de longas madeixas e passar a alisar seus cabelos sem aviso ou permissão, sussurrar coisas desconexas nos seus ouvidos, o que gerou inclusive um 'chega pra lá' um tanto engraçado da namorada de um deles...
Bem, acontece que este escriba já travou contato físico com a moça em questão, no mesmo bar, há pouco menos de dois anos, evento devidamente relatado aqui nesta tranqueira. Pois desta vez, a moça foi muito mais incisiva:mal me viu, lançou-se a mim, após duas recusas veementes de outrem, com uma determinação e volúpia que não deixavam opção (aliás, optei por não perguntar se lembrava de mim daquela noite anterior não muito gloriosa...).
Após simplesmente pousar no meu colo e me tascar um beijo, digamos, bastante dedicado, caçador noturno e moça, tomados pelas forças atávicas que realmente governam a humanidade, foram para um lugar mais reservado, do qual retornaram talvez uma hora depois. Para alívio geral da nação, assim que readentramos o bar ela se juntou ao amigo, irmão ou sei lá o que com quem chegara, se entupiu de bebida e desabou numa mesa. E este sujeitinho pegou mais uma porção de bebida e foi literalmente procurar sua turma, a qual, inclusive, já o esperava, de copos na mão e olhares divertidos e cínicos...
No decorrer do restante da noite meus amigos e conhecidos, ao me verem leve, livre e solto e a moça desmaiada na mesa apontavam para ela e inquiriam, exalando cinismo:
"Ei, Alex, não vai cuidar da sua 'namorada'? rs rs rs"
E eu, mais de uma vez, simplesmente fazia o universal gesto de 'chiiii', 'silêncio'!
Fim da historieta? Chamei um carro de aplicativo, despedi-me da turma e sumi na noite, torcendo para que a mala, ops, a moça em questão, ficasse pelo menos mais quatro anos desaparecida.