Como anunciado, inicia-se uma série que contará algo sobre as musas inspiradoras do livro razão de ser do blog, sem revelar muito. Identidade de todas e deste que vos escreve, claro, continuará nos pontos escuros e menos frequentados da noite paulistana ou na imaginação da minha fiel meia dúzia de leitores. Outra observação importante, antes de começarmos: essas mulheres não podem e certamente não querem deter o título de únicas inspiradoras desses relatos raivosos; foram uma espécie de catalisadoras, em que foquei meus sentimentos e reflexões, a figura delas permitiu dar forma literária à fúria, ao rancor e à raiva vividos não só com elas, seria injusto esqueçer de tantas outras que também contribuíram para a gesta dessas pérolas da chauvinice masculina. Então, vamos lá.
Conto semi-erótico. Ou: como perder várias noites de sua vida
Uma revisão do meu relacionamento com S., amiga de infância bonita, lânguida, dona de linda bunda e de muitos tormentos interiores e com a qual tive uma seqüência de encontros, ficadas, enroscos e tretas, primeiro em nossa adolescência - encontros furtivos e ligeiros, longe dos olhares de pais e de nossos pares amorosos oficiais - retomados dez anos depois, quando já beirávamos os trinta anos E por que essa historinha tão banal mereceu um conto? Bem, a constante dessa história foi uma negação contínua: negação de sexo, de contatos mais íntimos, negação de um relacionamento bem-resolvido entre adultos, como o protagonista-alter ego pergunta à personagem que representa S., no fim do conto: " por que os adultos, que se dizem sabidos, espertos e vividos, não são diretos e sinceros nas relações amorosas, preferindo joguinhos para esconder suas intenções, como se fossem adolescentes que moram sozinhos?"
Sim, durante anos corri atrás dela como um autêntico idiota, deixando-me levar pelo joguinho de insinua-foge típico das fêmeas e por algo tão forte quanto, que parecia sepultado mas ressurgiu em plenitude, há pouco: uma amizade que atravessou décadas, pois ela nunca deixou de ser amiga. Mas ela é uma mulher, portanto foi como uma lei matemática coisas estranhas ocorrerem: S. me empurrava algumas lindas e deliciosas amigas, falando a elas maravilhas a meu respeito, mas nunca permitiu que eu tivesse dela mais que rápidas bolinações nas pistas dos porões góticos e casas de rock mais podres desta cidade e vislumbres de sua lingerie...
Em suma, este primeiro conto é a história da busca por uma trepada que nunca ocorreu e de como isso foi resolvido de maneira ao mesmo tempo bastante carnal e simbólica. E cometi uma impropriedade e tanto com esta narrativa: mostrei-a a sua inspiradora, que ficou desconcertada com o que leu.
Por fim, se querem saber um pouco mais sobre eu e a moçoila, leiam a postagem "Crônica de uma noite que não terminou mal, mas não será louvada", principalmente os comentários.
Saudações
Por que será que as coisas não vividas continuam tão vivas dentro da gente?
ResponderExcluirPorque o fato de serem não-vividas as faz habitar o terreno do "e se", como teria sido, o que seria de minha vida se tivesse feito isso ou aquilo, e esse tormento é terrível e viciante, eu diria.
ResponderExcluir