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segunda-feira, 1 de março de 2010

Crônica de uma noite que não terminou mal, mas não será louvada

   Sai apressado para mergulhar na mistura de luzes féericas e multicoloridas e escuridão profunda, que caracteriza nossa amada e odiada cidade,uma imagem que aliás sempre está nos meus escritos. Logo eu estava na Augusta. Primeiro, algum tempo sentado no BH, meu quartel-general de bebedeira, o meu bar, onde largo folhetos e textos pelo balcão, onde abasteço minha imaginação hipertrofiada ouvindo as conversas alheias, meu bar de tantos anos. Sem muita pressa, bebi, comi, bebi, bebi; após uma hora ou mais por lá, enquanto pagava, o caixa, que já é meu conhecido, deu a ótima notícia de que dobraram a histeria anti-ruído e anti-vida noturna e voltaram a funcionar por toda noite, desde que sem mesas na calçada. Saí de lá animado, crendo que isso era presságio de uma noite divertida, no mínimo.
    Caminhava sem pressa, observando tudo que possível, principalmente os corpos e olhares das mulheres, mocinhas, meninas e putas, pois eu não estava em busca de alguma redenção, não esperava encontrar o amor de minha vida perdido por lá - felizmente, já deixei tais ilusões de juventude de lado -  o que eu queria era algum sexo de qualidade,  e mais nada - Cometi então o primeiro erro: parei para beber num dos bares de visual mais maneirista, podre e estilizado da rua e ousei, premido por mais fome, a comer algo de lá. A murchidão daquela iguaria milenar já alertou-me de que não faria bem, mas, impetuoso e decidido como só um macho idiota pode ser,  mandei ver.
    Umas voltas tortuosas e sem direção pelas ruas paralelas, para, digamos, ver a cidade, apreciar o lirismo do Bexiga e do centro numa madrugada fria (sim, também sou um piegas que adora ver a cidade e imaginar, como tantos outros, que sabe alguma porra de verdade sobre ela), mais e mais bebida e por fim paro para a suposta última cerveja da noite no Augusta 472, meu tipo de bar: meio escuro, despojado, meio sujo, rock no vídeo, sem frescuras, nada daquele ar emo/pseudo-indie ou de culturetes que domina a parte mais alta da rua. Senti os primeiros eflúvios da embriaguez ao tomar o último gole da Heineken e decidi que era melhor zarpar, pois para ser honesto, a intenção primordial  era simplesmente ver um pouco de movimento noturno, se uma chance de sexo aparecesse, ótimo.
      Já me levantava da banqueta quando ouvi aquela voz tão familiar: - Você?! Não acredito! - E lá estava ela, S., antiga amiga e alguma coisa a mais, a musa inspiradora de "Conto semi-erótico", o conto que abre Noites Cafajestes e Alguns Dias Canalhas . Não a via ou falava com ela há pelo menos dois anos, graças ao cansaço de ser sempre mais um qualquer na sua lista de opções e ao alerta de um amigo, colaborador frequente deste blog, que cumpriu o mesmo papel por anos e ao descobrir que nós dois erámos parte do séquito de patetas particulares da 'gaja' me chamou para uma conversa de machos e recomendou que cortassemos essa ridicularia de nossas vidas já bem ridículas.
     Sim, lá estava ela, ainda atraente e interessante, apesar dos pés de galinha, acompanhada de um casal de amigos estrangeiros, aos quais mostrava as delícias da cidade.Conversamos um pouco, claro que ela me nomeou "cafajeste" por ter "sumido" - mal sabe ela o bem que me fez ao me chamar disso!- E aconteceu: movido  pelo álcool, o desejo de alguma ação e pela atração que essa peste ainda me causava, tentei arrancar um beijo, sem ser bem-sucedido. Ela, então, pôs seus joguinhos na mesa: sacou de um celular último tipo e pediu que o casal tirasse uma foto de nós dois abraçadinhos... Claro que, assim que abraçei-a por trás, ela sussurrou "sem encoxar, hein!" . Creio que entenderam a intenção dela e deduzem o que ocorreu em seguida...
     Subimos a Augusta falando bobagens, ela pedindo indicações de algum lugar legal para levar os amigos. Mostrei  o Astronete, citei o Saravejo, nada a animou. Assim, cometi o último erro: bebi mais uma cerveja.
Ao alcançarmos a Paulista eles rumaram para o estacionamento para apanharem o carro dela. Mas antes S. pediu que eu ligasse, que não fosse canalha de sumir de novo e me repassou o número. Dei meia volta e tomei o rumo de minha caverna,  arrancando o que podia das migalhas da noite.
     O Grande Final: a noite não foi ruim, ainda que não boa, mas não será louvada, pelo preço que cobrou no dia seguinte: além da quantidade excessiva de cerveja e dos quitutes pouco recomendáveis que ingeri em pouco mais de três horas, creio que meu corpo quis castigar a si mesmo e a seu dono por terem ambos cedido tão fácil aos apelos sexuais e tentado algo com uma mulher que durante anos só concedeu beijos, amassos e algumas bolinações, mesmo sabendo que ela regularia de novo. Acordei, após uma noite de sono incompleta e conturbada, com uma ressaca mastodôntica e a pior crise gástrica em muitos anos, a qual, neste exato momento, ainda não foi totalmente debelada.  Meu corpo não perdoou a si mesmo nem a mim e quem sabe, aquela ruiva metida a bruxa não sugou parte de minhas forças, mesmo sem uma troca de fluidos mais intensa?
P.S.: breve iniciarei uma série de postagens sobre a musa inspiradora de cada conto do livro, sempre preservando a identidade delas e a minha, claro.Se estão curiosos sobre Senhorita S., aguardem.       

3 comentários:

  1. Talvez você tenha deixado uma garota legal sozinha naquela noite, enquanto insistia na sua "profecia auto-realizável". :)

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  2. Malva, a noite teve desdobramento e você está mais certa do que pensa: uns dias depois, essa garota, sabendo do momento que passo, da situação atual da vida desse cafajestezinho,mandou uma mensagem bastante terna e preocupada, foi minha amiga de verdade, ignorando que me afastei dela deliberadamente por mais de dois anos, tentou fazer algo por mim. Bem, não preciso dizer que fiquei passado.E recebi uma bela lição da vida, convenhamos. Já disse isso antes em uma postagem: quando minha raiva com o mulherio atinge os píncaros do absurdo, vem alguma mulher e com um gesto ou palavras simples restitui minha confiança nelas. Beijo

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  3. Ah, que bom... Talvez um dia vc deixe de ter raivas homéricas do mulherio para ter de uma mulher. Não sei se será com ou sem motivo (a raiva), mas é mais justo. :) Beijoca.

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